Começando por onde terminei a postagem anterior, na qual tratei da competência legal do treinador de futebol, chegou a hora da “porca torcer o rabo”.

Sei que a posição que ora apresento é bastante polêmica e certamente irá despertar muitos comentários contrários, o que é sempre muito bom, ao menos para mim que aprendo com cada debate.

Para deixar claro, de antemão penso que para qualquer atividade laboral, o profissional precisa de formação e isso não é diferente para o treinador de futebol. Obviamente, somente a experiência acumulada ao longo da vida de atleta não credencia ninguém a atuar como treinador. É preciso uma formação técnico-científica que se some à prática desportiva.

O que discuto é qual o nível de formação necessário para que alguém possa atuar como treinador de uma equipe profissional de futebol. Será que é realmente necessária a conclusão do curso superior de Educação Física?

Usando como parâmetro a matriz curricular de um curso de Bacharelado em Educação Física de uma universidade pública do Rio de Janeiro, pergunto: para alguém que queira atuar EXCLUSIVAMENTE como treinador de futebol, o que contribuirão disciplinas como:

Ginástica Geral Analítica I e II; Iniciação à Informática; Teoria dos Desportos Individuais; Práticas Metodológicas dos Desportos Individuais I, II e III; Estudos do Lazer na Atividade Física; Recreação na Educação Física; Nutrição Aplicada à Educação Física; Práticas Metodológicas do Voleibol; do Handebol; do Basquetebol; da Natação; Folclore e Culturas Populares; Gerontologia; Educação Física Adaptada; Teoria e Prática do Lazer; Dança na Educação Física; Políticas Públicas de Saúde na Educação Física; Educação Física Comunitária; Atividade Física em Parques Aquáticos?

IMPORTANTE:

Estou me referindo exclusivamente àqueles que pretendem atuar como treinadores de futebol de equipes profissionais. Se formos falar de treinamento para categorias de base, a coisa muda completamente de figura, uma vez que o conhecimento de outras modalidades e manifestações culturais é imprescindível para quem ministra atividades desportivas para crianças, cujo principal objetivo no que se refere à aprendizagem de habilidades especializadas é o aumento do repertório motor, que depende diretamente da variabilidade de prática.

Em minha modesta opinião, o treinador de futebol de categorias principais não necessita, via de regra, de diploma de Educação Física. O que não quer dizer que não precise de formação.

Antecipando os contra-discursos:

A critério da Instituição de Ensino Superior, o projeto pedagógico do curso de graduação em Educação Física poderá propor um ou mais núcleos temáticos de aprofundamento, utilizando até 20% da carga horária total, articulando as unidades de conhecimento e de experiências que o caracterizarão.

Diante de todo o exposto, acredito que deveríamos rediscutir todo o modelo de formação em Educação Física no Brasil e, depois disso, estabelecer os limites de atuação profissional. Ampliar o escopo do Conselho para admitir (agora eu apanho! 😁) outros segmentos de categoria, como treinadores desportivos, talvez… Lutar pela revisão da Lei 8.650/93, não para impedir que não diplomados possam atuar como treinadores de futebol, mas para delinear claramente qual a formação necessária para cada “treinador”, de acordo com sua efetiva atuação: para a base, apenas profissionais de Educação Física.

Bom… o tema é complexo e a postagem já está muito longa. Vou ficando por aqui.

Só para deixar claro: dedico mais de 30 anos de minha vida profissional à Educação Física, amo o que faço e tento, dentro de minhas limitações, contribuir com o reconhecimento da profissão.

Não quero acabar com a Educação Física e nem desvalorizar nossa área de conhecimento.

Um forte abraço.

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